quarta-feira, 22 de março de 2017

IO SONO ITALIANO GRAZIE DIO

IO SONO ITALIANO GRAZIE DIO

Eles vieram de muito longe e de várias regiões da sua terra natal em busca de mais oportunidades, no novo mundo. Partindo dos portos de Nápoles e Gênova atravessaram um atlântico perverso e traiçoeiro, com olhos fixos no Brasil, geralmente em porões de navios sujos, desconfortáveis e apinhados de gente (2,4 mil pessoas em uma única embarcação), no total, a viagem podia durar cerca de 40 dias, em péssimas condições de higiene o que levava muita gente à morte. Foi assim, que inúmeras famílias italianas deixavam tudo para trás em nome da oportunidade, em busca de um futuro melhor. Uma aventura que construiu uma nação. 


Enquanto a Itália se esvaziava, o governo imperial brasileiro incentivava a vinda de europeus com o intuito de, dentre outros motivos, "aprimorar" os hábitos de trabalho e "estimular" a concorrência entre os trabalhadores brasileiros.

Chegaram sem direito a nada e muitas vezes enganados por aproveitadores. Quando pisaram em solo brasileiro, depararam-se com uma dura realidade que incluía doenças tropicais e até mesmo escravidão em fazendas, algo bem diferente daquilo que lhes foi prometido. Mesmo assim, com um sonho em mente e movidos pelo desafio e com a força dos seus braços, eles não desistiram, aliás, souberam prosperar muito bem na terra a qual adotaram como pátria amada. A colonização italiana ajudou a erguer este país. O resultado 142 anos mais tarde? é que hoje, "somos todos um pouco italianos".

Foi assim que, milhões de camponeses que não conheciam nada além do seu vilarejo de origem, tornaram-se viajantes pelo mundo. Verdadeiros bandeirantes que exploraram e efetivamente descobriram os sertões deste país e em um destes sertões, estava nossa região. Estima-se que entre 1870 e 1970, aproximadamente metade da população da Itália abandonou sua terra natal, razão pela qual muita da identidade nacional desses imigrantes se forjou, na sua grande maioria, no Brasil.

Hoje Fraiburgo é o que é, e um pouco disso que a gente vê agora, existe graças ao talento deste povo. Segundo sua embaixada, em 2013, juntos eles são 30 milhões, cerca de 15% da população brasileira, um número respeitável. É por estas e outras que, os ítalo-brasileiros são considerados a maior população de oriundi (descendentes de italianos) fora da Itália em outra nação.

De onde partiram?

Os emigrantes Toscanos eram do centro da Itália, já os do Sul, por sua vez, eram braccianti (morenos, mais pobres e rústicos), que trabalhavam em terras alheias. Ademais, os imigrantes do norte, eram pessoas mais loiras, pequenos fazendeiros, arrendatários ou meeiros. Nos sul do Brasil, desembarcaram italianos das regiões do Vêneto, da Lombardia, dos Campânios, seguidos dos Calabreses e Abruzenhos. Em Santa Catarina, cerca de 95% dos italianos que aqui chegaram, eram do norte da Itália.

Onde desembarcaram?

A primeira chegada acontecia nos portos do nordeste e no Rio de Janeiro. No Rio Grande do Sul, cuja chegada dos italianos completa 142 anos, eles adentraram por Porto Alegre, pelo Guaíba, no ano de 1.875, formando então 4 colonias, estado a dentro. A primeira cidade a recebe-los foi o distrito de Nova Milano, em Farroupilha e dali se espalharam por várias partes. Muitos iam e vinham do Rio de Janeiro, trazendo parentes e amigos para as encantadoras terras do sul. Em Santa Catarina, os colonos se estabeleceram, principalmente, no sul do estado onde começaram a cultivar uvas e a produzir vinhos. 

O velho oeste

A colonização do oeste catarinense, pelos italianos, demorou um pouco mais e surgiu através dos descendentes daqueles que desceram no Rio Grande do Sul. O povoamento se tornou mais intenso com o fluxo dos fugitivos remanescentes dos vários conflitos que ocorriam no final do século XIX, início do XX. Chegarem por aqui e enfrentaram outra guerra, a fúria dos povos indígenas (Kaigang e Xokleng), mas souberam empreender. Por isso, muito da nossa tradição em nossa região é oriunda dos gaúchos,

Encantados pelo relevo, muito parecido com aquilo que seus pais tinham no país natal e também pelo clima que lembrava a Itália, os migrantes viram no Oeste outra oportunidade dentro da mesma oportunidade.

Os italianos em Fraiburgo

Por aqui, cidades vizinhas como Joaçaba, Pinheiro Preto, Videira, Tangará dentre outras receberam a leva dos filhos e netos, já concebidos no Brasil, dos primeiros desbravadores italianos. O alvo teria sido as margens do Rio do Peixe. Em Fraiburgo, a migração aconteceu destas cidades vizinhas e coirmãs. Era meados do século 20 e o último passo de algo que havia começado a quase um século atrás. Por isso, a íntima ligação entre Fraiburgo, os municípios da região e seus italianos, pois muitos parentes dos primeiros que aqui chegaram, ficaram naquelas cidades, assim como no Rio Grande do Sul.

Foi desta forma que muitas famílias encararam mais um desafio, desbravar um lugar que era puro mato, pertencente ainda aos distritos de Curitibanos e Perdizes (Videira) chamado Campo da Dúvida, que se estendia sobre duas fazendas repletas de robustas araucárias, nos idos de 1949. O nome Campo da Dúvida (depois Butiá Verde) veio da inexatidão dos limites destas duas áreas de terra. 

Chegaram juntamente com outros europeus e se instalaram por toda a cidade, todavia as localidades mais próximas a Videira tais como: Camboim, Linha Brasília e Nossa Senhora de Lourdes (Gruta) foram as que mais agradaram.




​​Comunidade Nossa Senhora de Lourdes 

Os costumes continuam

Os ítalo-brasileiros mantêm seus costumes tradicionais da terra de origem, assim como parte da população brasileira que acabou por absorvê-los, por conta do impacto da emigração italiana. A contribuição dos italianos é notável em todos os setores da sociedade fraiburguense. Mas foi principalmente na economia que sentimos a diferença. Uma coisa é certa, onde tem italiano, tem uma igreja católica para seu momento de louvor e agradecimento. Cidades vizinhas, cujos italianos pisaram primeiro, ainda ensinam o idioma nas suas escolas.




​Igreja Matriz - Católica

Eles venceram o preconceito e pode-se dizer que acrescentaram, desde o modo de vida ao qual se alterou profundamente, influenciado pelo catolicismo, bem como nas artes, música, arquitetura, alimentação e no empreendedorismo. Quem não gosta de ir a um porão de uma bela casa italiana, fresquinho e arejado, para experimentar um bom vinho colonial ou comer um bom queijo e salame? ou comer uma boa chimia de uva "chupada"? A bela polenta com galinha caipira, sem esquecer do famoso radiche continua matando nossa fome. Isso é a cara do sul!

O talento em trabalhar, negociar, inventar
Constituídas por grandes famílias, cheias de filhos, os italianos precisavam alimentar toda essa gente e foi aí que, começou a riqueza fraiburguense. Entremeio a pessoas de pele escura (bugres) que perambulavam pela mata fechada, coisa que os italianos nunca tinham visto em seu país de origem, eles foram comprando terra, metendo a serra e derrubando florestas, fazendo dinheiro vendendo madeira, plantando, cultivando suas glebas, criando seus rebanhos e disso tudo fazendo outros produtos, posteriormente abrindo caminho a picareta para vende-los. Eles souberam usar as fontes de energia.
Bairros inteiros como o Santo Antônio e o São José em Fraiburgo, hoje são locais com um pé na Itália. No esporte, a bocha, o quatrilho, os torneios de futebol eram repletos de equipes de italianos (muitos torcem para a seleção italiana ainda), no final do século passado. O lazer também faz parte das vidas e a atual festa católica das comunidades, realizada no final do ano, é uma festa puramente italiana a qual enaltece os santos da Igreja mãe.


Família Campanharo na comunidade da Gruta/Cambuim, divisa entre Fraiburgo e Videira (já pertencente a Videira)

​Fraiburgo fatos e fotos



Fraiburgo fotos e fatos

A coragem destes homens e mulheres

Apesar do nome ser alemão e a cidade ter sido fundada pelos "Frey", Fraiburgo é o que é e muito disso surge pela força conjunta (basicamente) dos braços, como já vem sendo dito, dos italianos, alemães, franceses, caboclos, poloneses e portugueses, dentre outros. Para qualquer lugar que você olhe, tem-se o dedo dessa turma, seja no comércio e na indústria, seja na arquitetura, na culinária, na colonia ou nas nossas festas tradicionais e até mesmo no jeito que falamos e nos comportamos. 

O momento faz a oportunidade e o desmatamento, a lavoura, a fruticultura e a criação de gado, porco e frango foi o começo, no entanto, disso surge então as grandes empresas com seus produtos derivados. O automobilismo é outra paixão italiana vide Ferrari e Lamborghini, assim, para uma grande maioria a renda veio do transporte, se transformando em ótimos e incansáveis caminhoneiros, que muitas vezes viraram suas noites levando e trazendo nossas riquezas. Muitos perderam suas vidas por essa terra. 

Italiano tem fama de ser econômico (pão duro), mas isso também foi um fator decisivo para que nossa cidade soubesse poupar, investir e crescer para o lado correto. Enfim, plantações, produtos manufaturados, açougues, mercados, serrarias, transportadoras, oficinas, profissionais liberais, lojas de roupas e empresas, tudo foi surgindo com o condão da liberdade e aos poucos a cidade foi crescendo e expandindo suas fronteiras. Fraiburgo se tornou atrativa e até os franceses desembarcaram por aqui, com a maçã. Crescemos a um nível surpreendente e assustador, até meados dos anos 1990. 


O futuro

Quem pensa que eles se aquietaram, esta redondamente enganado. Atualmente, os italianos, agora transformados em gaúchos, catarinenses e paranaenses, no final do século passado, se deslocaram para as grandes terras do norte e centro-oeste. Lá, eles novamente estão fazendo a diferença. Para o futuro, talvez esteja no trajeto o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), quiçá a última fronteira agrícola com potencial para se desbravar no Brasil. 

Muitos dos descendentes destes primeiros italianos tiveram de deixar nossa cidade por pura falta de opção, todavia, quem bebe o vinho ou a água abençoada desta terra, sempre retorna.


Anos 50, o velho chaminé, monumento ao empreendedorismo

Fraiburgo Fotos e fatos

Fraiburgo 2017


Vitório Tessaro e seu filho Fiorelo Tessaro.
Pioneiros de Fraiburgo


No centro da foto, Julio Boaventura Tozo, primeiro Prefeito de Fraiburgo


Antonio Balestrin, o patriarca da família. Ele veio com seus pais e dois irmãos da cidade de Torino, na Itália. Se estivesse vivo estaria completando 152 anos. Se instalaram na região de Nova Roma do Sul (Antonio Prado) no RS.