Na madrugada do dia 30/3, Fraiburgo
viveu suas horas de desespero e junto, sua noite de cangaço, tudo porque fomos
alvos de mais um mega assalto. Assim, o Banco do Brasil foi invadido por 8
marginais que literalmente, o destruíram, para depois limpar seu cofre. Toda a
ação foi registrada por câmeras de segurança. Pelo jeito, ninguém escapa e
daqui para frente poucos escaparão destas investidas criminosas. Todavia, para
quem viveu isso de perto, foi um terror!
Ademais, calmamente, homens
encapuzados e fortemente armados surgiram do nada e com total domínio da ação,
estacionaram seu carro (furtado) em frente ao banco, desceram com tranquilidade
com seus fuzis, estabeleceram-se em posições estratégicas e começaram seu
trabalho cinematográfico. Dezessete minutos, este foi o tempo que levaram para
roubar e olha que ao final, o porta-malas quase foi pequeno para tanta mala
cheia. Sem ocorrência de vítimas fatais, foram 17 minutos aos quais eles
mandaram na cidade.
Aconteceu mais ou menos igual aqueles
grandes assaltos que vemos diariamente na TV cujo apresentador Datena
esbraveja, em seu programa, dizendo: "nós não temos segurança em nenhum
lugar deste país" ou "os bandidos estão mandando no Brasil".
Quem assaltou essa agência é super
organizado. Impressionante, mas os ladrões chegaram e como se estivessem
fazendo seu trabalho, aquele que sustenta seus familiares, dispararam alguns
tiros para o alto e com alguns gritos de ameaça, encurralaram todo mundo.
Poucos ousaram em por a cara na janela. O que restou? rezar. Findado o serviço,
eles sumiram, outrossim, deixaram muitas polêmicas no ar.
A polícia, constatando a desigualdade
de condições não optou pelo confronto, in loco, sendo que
limitaram-se em assistir pelas câmeras de segurança. Para muitos, isso foi o
correto, mas para outros, teria sido a vitória dos marginais perante o estado.
Sem dúvidas, caso a gloriosa PM pensasse em entrar nos carros, para entrar em
confronto com a bandidagem, seriam recepcionados a muita bala e de grosso
calibre. Então, eles teriam condições para isto?
No dia seguinte ao evento, ouviu-se
de tudo. Um policial ao qual mora perto, relatou sua total impotência, perante
a barbárie. Um comerciante comentou que: "eles vêm para fazer a parte
deles, para matar ou morrer e basta ninguém se intrometer, que tudo ocorre
tranquilamente. Parece até que se divertem assaltando". A maioria dos
depoimentos defendeu a permanência da polícia na central, porém, alguns
alegaram a falta de comprometimento da mesma com a comunidade. Uma senhora
relatou: "uma mãe nunca aconselharia seu filho policial a enfrentar, sem
condições, este tipo de situação".
Na real, a principal preocupação foi
com a incolumidade social e na iminência de qualquer ação, um policial sempre
deve fazer-se uma pergunta básica: o porquê? Por que ir para o combate? se o
contingente é limitado, sendo que eram somente 3 PMs contra sei lá quantos
bandidos na surdina? Por que, ir para o confronto se o armamento é fraco? Por que
trocar tiros, se poderiam ferir cidadãos de bem? Por questões morais, o militar
não gosta de sucumbir em uma missão. Então, combater de que jeito? Mas também,
não adianta sair agindo com truculência, quando se tem fraqueza do outro lado.
São dois pontos diferentes, dos mesmos por quês.
Diante disso, pode-se debitar o
acontecido a um conjunto de fatores tais como: a falência moral/política do
Brasil, o desemprego, a lei branda, os presídios lotados, a diferença abissal
entre pobres e ricos, o crescimento de organizações criminosas e a falta de
investimentos. É isto que leva a sociedade a ficar de mãos atadas.
Mas, e os bancos? por que os bancos
não reforçam a sua segurança? Não seria do seu interesse? cuidar dos seus
clientes, do patrimônio e enfrentar este tipo de situação!? Poderiam alegar
que, caso adotassem o confronto direto, seria uma tragédia. Então, como diria
Celso Russomano: "estando bom para ambas as partes", no caso,
bandidos, polícia, bancos e a população, fica tudo como está, e o seguro que se
defenda. Mas mesmo o seguro, cai na conta de alguém, alguém paga por esse
bagaça.
Enquanto as coisas não mudarem, não
adianta ter a coragem do ator Charles Bronson, ou a visão de Wild Bill Hickok,
bravo xerife norte-americano ao qual se envolvia no século 19 em
vários tiroteios ou a visão da famosa "Jane Calamidade", mulher
aventureira, se quando a bala canta, não há como enfrentar. Policial
pensa antes de atirar, já o bandido, o bandido se esconde atrás do cidadão de
bem e atira em que vê na frente. Também não adianta o policial descarregar seu
ódio, muitas vezes, quando pega um ladrão de galinhas.
ENTREVISTA COM O SEGUNDO TENENTE, MARCOS CASTRO
Le.Sete
procurou o comando da Polícia Militar de Fraiburgo, o Segundo Tenente Marcos
Castro e este explicou melhor a situação.
Le.Sete: Por que a
polícia optou em não enfrentar os bandidos, durante a ação?
Segundo
Tenente, Marcos Castro: neste tipo de
assalto, dentro da Polícia, nós temos um padrão para agir. A PM tem o
procedimento certo a ser feito, para cada situação fática que acontece. É assim
na aplicação da Lei Maria da Penha, no caso de tráfico de drogas e também neste
tipo de assalto a banco, com uso de armamento ou não. Para cada situação destas
e muitas outras, tem-se um tipo de abordagem. No caso de assalto a banco, são
dois procedimentos. Havendo capacidade numérica para o confronto e um armamento
mais leve, em poder dos marginais, a polícia vai sim para o confronto. Já na
situação do dia 30, aconteceu ao contrário disso, houve um grande
número de bandidos, aproximadamente 8, com uso de armamento pesado, e nós
estávamos somente em 3 policiais. Neste caso, o procedimento a ser adotado, é a
cautela. Assim, não enfrentamos os meliantes, não por covardia, mas sim por
vários fatores, por estarmos em menor número do que eles, por ser uma região
central, cuja a troca de tiros com armas longas poderia atingir gente
inocente.
Le.Sete: a polícia simplesmente ficou olhando então?
Segundo
Tenente, Marcos Castro: claro que não. Naquela
situação nós não atuamos no local, mas enquanto o assalto acontecia acionamos o
cerco nas cidades vizinhas.Todavia, eles conseguiram fugir por alguma estrada do
interior.
Le.Sete: quais os problemas que a PM enfrenta?
Segundo
Tenente, Marcos Castro: sem dúvidas
o déficit de policiais é nosso maior problema, precisávamos de no mínimo o
dobro do efetivo. É claro que a PM enfrenta outros problemas, mas em hipótese
alguma nos falta vontade em combater o crime, nem nos falta armamento.
Le.Sete: ouviu-se muita coisa a respeito da polícia não enfrentar os bandidos
neste assalto ao Banco do Brasil. Muitos dando razão à PM em não enfrentar,
pois é notória a diferença, entretanto, algumas criticas foram inevitáveis.
Teve gente falando que hoje a pessoa procura o cargo de policial, mais pelo
salário do que pela vocação e esquecem de que o principal combustível para
estes homens e mulheres, é a coragem. O que o senhor tem a dizer disso?
Segundo
Tenente, Marcos Castro: isto não procede. Todo
policial passa por um longo e peculiar treinamento e quem não leva jeito para a
coisa, não aguenta e abandona. O treinamento já filtra isto.
Le.Sete: a polícia deve ser procurada diuturnamente, por qualquer coisa. Como
vocês lidam então com essa enxurrada de ocorrências e a falta de soldados?
Segundo
Tenente, Marcos Castro: toda a ocorrência tem
atendimento. Não há essa ou aquela situação diferente para o estado. Mas é
notório que temos, no Brasil, um problema sério. Nossa legislação é atrasada,
temos carências notórias nos pilares sociais, também. Com isto, o cidadão de
bem tem de torcer para que a polícia consiga prender o bandido, aí, torcer para
que a Polícia Civil consiga fazer seu papel investigando, torcer que o MP
denuncie e que o juiz aplique a lei que por sinal é atrasada. Isso tudo demora
muito. Nossa lei é muito branda.
Le.Sete: é a favor da legalização das drogas?
Segundo
Tenente, Marcos Castro: sou contra. Não
adianta comparar o Brasil com outros países. Não adianta achar que liberando a
droga o estado vai lucrar, os índices de violência vão baixar, isto é falácia,
pois o crime migra. Sair do tráfico, não encerra o crime.