quinta-feira, 6 de abril de 2017

DISPUTAR MILHO COM QUALQUER GARNISÉ

 


Ao encontrar um conhecido que foi candidato a vereança, agora, na última eleição e logo após a sua derrota nas urnas, indaguei-o: "-- e aí? tá firme para a próxima?" Considerado um candidato da elite, a resposta foi-me seca e inusitada: "não disputo mais milho com qualquer garnisé, quero ser prefeito!" Não é de se espantar a reação, pois conhecendo o rapaz como conheço sei da sua soberba. Mas não vem ao caso. Pensando bem, sabe que, tive de dar um pouco de razão para o cara, não pelo jeito que falou mas pelo sentido da frase. No começo achei até meio rude e levei isto como um desabafo, mas depois, repensando o assunto, de fato, sabe que ele tem razão!

Nas entrelinhas do que ele disse, muitas vezes não vale a pena o cidadão estudar, se esforçar, trabalhar, ser conhecido, fazer o bem, enfim, ter um passado que o credencie a planejar uma carreira política, pensando em construir uma sociedade mais justa e sem comprar votos, se no abrir das urnas vence quem paga mais. Mas não recrimino o eleitor, pois isto é do costume do Brasil, só que está ficando insustentável. E se lá em cima, no governo federal, estão botando a mão no pote de mel valendo, é óbvio que o eleitor, o mais "desinformado," também vai querer dinheiro para fazer seu papel democrático. Afinal, é ele quem paga a bagaça toda.

O cálculo é simples! Só para exemplo, criemos então uma cidade fictícia com 10.000 eleitores e 100 candidatos a vereador, disputando então 9 cadeiras na sua eleição. Destes eleitores, retiremos 30%, ou seja, 3.000 que não querem nem saber do pleito. Sendo assim, restam 7.000 votos aos quais serão disputados pelos candidatos. Destes, tiremos outros 4.000 aos quais votam pelas virtudes, pela amizade ou parentesco. Restará então, até a eleição, cerca de 3.000 eleitores indecisos. É aqui que um vereador irá destinar sua lábia na conquista e é aqui que entra um componente fundamental: o dinheiro, muito dinheiro, destarte este é o terreiro que o "garnisé ou galisé" como queiram, vai cantar e vencer.

É no agrado generoso! É na promessa de emprego, é na gasolina semanal paga para por o adesivo no carro. É assim que o galo canta! Ou você acha que alguém põe um adesivo de boa a não ser que seja um daqueles 4.000 eleitores ditos anteriormente, que votam pela consciência?

Hoje para você se eleger vereador, o gasto, estima-se que gira em torno de R$ 60.000,00 até 100.000,00. Um deputado estadual gira em milhões de reais. Só pra você saber, na França o limite de gastos para a campanha a presidência é de 48,8 milhões de reais no primeiro turno e mais 65,3 mi para o segundo turno. No Brasil, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, na eleição de 2014, todos os candidatos a presidente gastaram juntos R$ 5,1 BILHÕES, fora o caixa 2 que provavelmente teve e que alguns querem anistia. É para isto que muitos fazem empréstimo, outros economizam, para chegar na época da eleição e ter o que casear. Muitos gastam o que não tem, faz-se de tudo na corrida de gastos para conquistar aqueles 3.000 eleitores. Já ouvi de um vereador que, o cálculo deste para suas reeleições é de "trabalhar" 2 anos na câmara para pagar o custo da campanha. E como fica durante a legislatura? Não gasta mais nada? E caso não se eleja?

É por isso que muitas vezes, aquele candidato com boas intensões e são muitos os que ficam de fora, acabam perdendo para os "garnisés ou galizés". É por isso que os políticos estão em baixa e sentimos falta de pessoas competentes no comando deste país, pois o garnizé sempre será um garnizé.